terça-feira, novembro 18, 2008

A morte de um imortal


Soube com pesar da morte do ex-presidente do Internacional Arthur Dallegrave, ocorrida na tarde desta segunda-feira. Enquanto me preparava para uma comemoração do título mundial (todo dia 17 um grupo de colorados relembra a conquista) recebi a notícia. Dallegrava morreu num mágico dia 17. Quase dois anos após ver a maior conquista do seu clube. Na verdade ele viu todas as grandes conquistas. E mais, ele participou de todas elas.

Impossível não admirar um homem que dedicou 58 anos dos seus 78 de vida ao clube do coração. E eu soube deste número, de anos de amor incondicional ao Inter da boca do próprio Dallegrave.

Era uma dessas pessoas que admiramos de longe. E passamos a idolatrá-lo após conhecê-lo. Eu tive a oportunidade de entrevistá-lo certa ocasião, há cerca de um ano. Naquela tarde ele me falou de muitas coisas além da pauta da entrevista.

No pequeno escritório, nos fundos da loja de sua esposa, seu Arthur me mostrou uma página de jornal emoldurado num quadro. Era um recorte do ano de 1967, senão me engano, relatando de uma vitória do Inter sobre um time paulista. Era a primeira vez que um time visitante vencia um paulista em sua casa. "Temos que valorizar a história do Inter", me dizia ele ao justificar a presença daquele recorte de jornal.

Me contou que queria sair da direção do Inter, estava cansado, mas que insistiram para que permanecesse. Na ocasião ele estava responsável pela preparação das comemorações do centenário colorado. " Trocamos muitas informações com a direção do Boca", me confidenciou ao revelar que admirava o modo com o time argentino festejou os seus 100 anos.

Também me falou com alegria sobre a participação das mulheres. "E isso começou com as mais velhas, as que hoje são mães de adolescentes", opinou.

Mas de todas as coisas que Dallegrave me disse naquele dia uma frase nunca me saiu da cabeça. E não é uma frase com lindas palavras. Talvez devesse enfeitá-la, pois um homem como ele merecia ser lembrado com ditos poéticos. Mas as palavras que mais me recordo de Dallegrave são simples, populares e sábias. Talvez como a personalidade daquele homem.

"É uma cachaça". Essa foi a definição que Arthur Dallegrave me deu sobre futebol. Numa tentativa de me explicar porque alguém dedica dois terços de sua existÊncia a uma coisa. E um alerta sobre onde eu estava me metendo. " É uma cachaça".

Ele não estará presente no ano de centenário, ao qual estava se preparando a algum tempo. Mas ele fará parte de qualquer comemoração, pois Arthur Dallegrave é parte destes 100 anos. Foi responsável por muitos breves e inesquecíveis momentos destes 100 anos. É uma das poucas pessoas que morreu tendo deixado seu nome da história que no passado foi por ele sonhada.

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