segunda-feira, novembro 10, 2008

Delírios Colorados - Futebol, tango e estrada

O Internacional venceu o Boca Juniors na temida Bombonera em Buenos Aires na última quinta. E esta blogueira viu tudo de perto. No final a recompensa da espera, do cansaço do sono e calor.

Quando soube que o Inter poderia enfrentar o Boca eu já desejei estar lá. Mas como há uns dois meses saí do estágio, faltaria um detalhe fundamental. Então há cerca de 50 dias comecei a colocar todo o dinheiro que sobrava, de cada compra no supermercado, cada almoço ou troca do ônibus. Todo presente da família. Toda moeda ia pra caixinha. Contei a colaboração dos amigos e consegui uma vaga na excursão das organizadas. Iria de ônibus e na excursão mais barata que podia encontrar.


Foram 18 horas de estrada na ida e na volta, em cada trajeto. Saímos na quarta por volta das 18hs (o horário marcado era 15h, detalhe) e desembarcamos na capital portenha às 13hs. Por volta da uma da manha saímos e chegamos em Porto Alegre às 18hs.

O nosso trajeto passou por Livramento, Rivera no Uruguai, para enfim chegarmos a Argentina. Nas fronteiras os nossos motoristas desciam com a lista os documentos ( identidade ou passaporte) de cada um dos passageiros e perdiam alguns bons 30 minutos. Também agraciaram o pessoal da Aduana com Coca Cola em litros. Parece que anda saindo bem lá o refrigerante. Alguns colorados nem saíram de Porto Alegre por não possuir identidade. E apenas um policial entrou no ônibus durante todo o trajeto. E sem cachorro ( a saúde do canino agradece). Um policial argentino pegou carona por cerca de alguns kms, mas ficou na cabine do motorista.

Na manhã de quinta, com a temperatura perto dos 30ºC, já na Argentina, todos queriam um banho. E paramos em um posto no qual a água saia gelada de um cano em um banheiro que não sabe o que é limpeza há um mês acho. Mas aquele banho veio como se fosse numa banheira de um spa.

Depois de não sei quanto tempo "quase chegando" entramos na capital Argentina. Ah, Buenos Aires, tinha me esquecido do quanto gostava de lá. Fazia sete anos que tinha estado lá e a cidade parecia mais suja, pobre e abandonada. Uma tradicional manifestação nos arredores da Casa Rosada. Eram pais beneficiados pelo "Bolsa-família" argentino que reivindcavam reajustE no valor dos benefícios. A presidente Cristina Kirchner teria negado esse aumento, daí o protesto.





Aliás a presidenta não anda muito popular por lá. Cartazes pela cidade e ironias na imprensa além de falas nas ruas nos davam o tom da popularidade da presidente. Um jornal publicou uma manchete com os dizeres " Lula x Cholula" sobre as fotos dos presidentes de Brasil e Argentina, respectivamente. Além do evidente trocadilho, a palavra Cholula siginifica uma pessoa alegre, segundo um vendedor de banca de jornais e revistas. A matéria, de acordo com o título, se referia a postura de Cristina ao parabenizar Obama pela vitória nos Estados Unidos.





Durante nossa passeio pela Florida encontramos vários colorados, alguns conhecidos de outras viagens. Vimos também um gremista e um argentino pediu que "por favor" não brigássemos com ele. Meus colegas de viagem reclamaram da saúde bucal de algumas moças trabalhadoras por lá. Parece que a dentadura tá cara para as moças de certo ramo. Os preços em geral estão bem mais salgados do que há sete anos. Me limitei a comprar um imã e um chaveiro do Boca.


E quase comprei uma camiseta do time dos xeneixes. Me arrependi depois. Diferente de muitos colorados eu sou admiradora confessa do Boca Juniors e de sua torcida. Após esta viagem, vi que sim deveríamos copiá-los em muitas coisas. Nossa torcida ainda está muito longe da deles. Não que tenhamos que cantar em argentino, não, me refiro ao modo de torcer. Isso torna a Bombonera mais linda do que é. Acredito que existam auto-falantes, pois em alguns momentos o som mudava de tom rapidamente. E os cantos são extremamente nítidos.

Mas quando os xeneizes pulam o estádio parece tremer. E por muitas vezes, não escutava a própria torcida colorada. Mas na hora que todos começam a pular são todos mesmo. Vi crianças de três anos pulando do mesmo jeito que senhores de 60 e de camisa social. E pulam do jeito que a Popular ou as torcidas organizadas fazem. Sim, senhores e mulheres. Não importava a idade todos pulavam do mesmo jeito. E daquele jeito.

Entendi porque muitos me perguntavam antes do jogo se já conheciam a Bombonera. Torcedores do River me disseram que não deveríamos temer o estádio. Entendi tudo. E volto deprimida com alguns setores da torcida do Inter. Cada um torce do jeito que quiser. Mas conforto se tem em casa. No estádio a torcida deveria torcer. E a torcida do Boca torce. Num jogo de um campeonato que não era sua prioridade e em um time composto por reservas a torcida lotou e apoiou.

Eles não esperavam que o Inter derrotasse o Boca do modo que fez. Nem Riquelme pode reverter isso. Durante alguns instantes a Bombonera calou. Aliás um cantinho estava barulhento e era o que eu estava. D'Alessandro chegou a se distrair durante o jogo para olhar a sua torcida. Do Inter. Embora fosse compostas por torcedores do River e de outros times argentinos. Todos a paisana e entoando cantos colorados. Um senhor do meu lado não se cansava de repetir ao telefone "escucha, escucha". Este senhor praticamente teve um orgasmo quando a torcida colorada gritou "Adeus Boca".


Quem não tava nada relaxada era a torcida do Boca na saída. Pedras foram tocadas e se não fosse a eficiente estrutura de barreira e isolamento preparada pela polícia, muita gente teria se machucado. Houve um momento de revide da torcida colorada, o que na minha opinião impediu que a torcida do Boca chegasse até onde estavam os ónibus da torcida colorada. Por alguns momentos a polícia deixou a briga correr. Ao final fez valer a força de seus cacetetes de uns dois metros para fazer com que todos os colorados entrassem nos ônibus. Segundo alguns companheiros de viagem estes doem mais que os da Brigada Militar.

E seguimos viagem. Mais 18 horas, com uma parada para banho, e estávamos em casa. E esta blogueira com sinceras saudades de "mi Buenos Aires querido".

Nenhum comentário:

Contato

  • acmagagnin@yahoo.com.br