domingo, agosto 26, 2007

Delírios Colorados - Gre-nal é gre-nal!!


Em uma segunda-feira qualquer do ano de 2027, meu filho de quinze anos lê as reportagens sobre a última rodada do Campeonato Brasileiro. Era dia seguinte a um gre-nal e todos ficavam atentos as reportagens pós jogo, já que as transmissões dos gre-nais haviam sido suspensas, cinco antes, a fim de evitar conflitos. Meu filho gosta de futebol e semana passada estava encantado com o clássico Fla-Flu que passou na tevê. Tinha até torcida no estádio. O colorado venceu o grenal em questão, mas ele parecia triste.

- Que foi filho, virou gremista que não tá feliz com a vitória do Inter?
- É que eu tava pensando, grenal é um clássico do futebol brasileiro?
- Claro!
- Como o Fla-flu?
- Sim, igual. São dois times rivais disputando um jogo. Que pergunta...
- Mãe, mas que clássico é esse que o estádio fica fechado? Que as torcidas não podem ver pela televisão? Esse jogo mais parece um treino. Nos lances que eu vi, parece que os jogadores não tão nem aí.

- É, mas um dia foi diferente...

Aí comecei a contar pra ele um pouquinho sobre a história dos grenais. Os olhinhos do meu colorado brilharam. Contei pra ele, que tanto o estádio do Grêmio, quanto o Beira-rio em dia de grenal lotavam, sendo quase metade azul e metade vermelha. Que as pessoas iam juntas aos grenais, um com cada camiseta. Que quando o grenal era no Olímpico, os colorados se encontravam no Beira-rio e iam até o Olímpico. Quando a violência começou a aumentar iam escoltados pelo polícia. Que isso unia muita torcida. Uns iam para divisa do portão no estádio e ficavam xingando o adversário.Que todo jogador quando vinha para um time do Sul queria jogar grenal. Que o Pato, mesmo depois de ser o melhor do mundo, dizia que um dos remorsos da vida dele era não ter jogado um grenal. Que Dunga e Ronaldinho Gaúcho disputaram um grenal. Que parecia final de campeonato. As pessoas lotavam os bares. E depois do jogo, era um buzinaço só. Tinha uma cidade do Interior, que eles brincavam dos perdedores puxar a carroça com os ganhadores dentro. Que muita gente fazia aposta. E durante a semana que antecedia o clássico, só se falava nisso na rua. E no dia seguinte quem ganhava tinha a sua cor brilhando pela cidade. O treinador que ganhava o grenal, podia colocar isso no currículo. E que ganhar na casa do adversário era motivo de alegria maior.

Conto pra ele do grenal de inauguração do Olimpico, antigo estádio gremista, em que o Inter ganha de 6x2, falo dos 5x2 e da atuação de Fabiano Cachaça em 1997. Conto do grenal do século, conto do Fernandão e o gol 1000 em grenais, e como aquele jogador começou a se revelar depois daquele grenal. Conto o grenal que vi o Inter perder o título gaúcho em casa, e como foi difícil ver a torcida do Grêmio cantar no beira-rio. Até consegui mostrar uns vídeos pra ele. O guri vibra, era só alegria.
E conto que, na idade dele, eu vivia a rivalidade, pois presenciei o primeiro título mundial do Inter e de como isso afetou a rivalidade grenal.

- Bah mãe, mas era um festa linda. E como chegou a isso que é hoje?

- Ah, primeiro eles começaram a diminuir os espaços da torcida adversária. É que dava muita briga. Depois tiraram a bebida dos estádios. Depois aumentaram o policiamento para dias de grenais, até o ponto em que o governo disse que não tinha homens suficiente para proteger os torcedores. Teve umas mortes nessa época. Aí, eles resolveram que seria torcida única. Mas o adversário esperava nos entornos do estádio. E teve muitas brigas feias nessa época também. Aí decidiram fechar os portões. Só que os donos dos bares começaram a reclamar dos prejuízos pelas frequentes brigas. E jornalistas começaram a ser ameaçados. Por segurança, decidiram que nenhum grenal mais seria transmitido, nem por televisão nem por rádio. E grenal gerava dinheiro, mas sem transmissão, muitos empresários convenciam seus jogadores a boicotar o clássico. E hoje só se escala reserva em grenal. A violência terminou com o brilho dos grenais, essa que é a verdade.

- Mãe, mas quando essa violência chegou a esse ponto, que começaram a cortar tudo que tinha de bom num grenal?

- Ah, foi quando a minha geração era maioria nos estádios....


4 comentários:

Unknown disse...

Boa!! adorei seu post !! li ele no blog do juka kifuri... é simplesmente fant´stico, continue assim! irei acompanhar seus textos ok? abraços de um colorado!
ibrescovit@gmail.com

Anônimo disse...

Um dos melhores textos que li na minha vida !

Tomara que não chegue a este ponto...

Obrigado Juca Kfouri por reproduzir o texto.

Anônimo disse...

Cara Ana,

sou recifense, torcedor do Sport e acabei de chegar da farra pós-vitória no seu rival. Li seu texto no blog do juca e afirmo: FOI O MAIS BELO TEXTO QUE JÁ LI SOBRE GRENAL!!!
Morei em Santa Maria por um tempo, já estive em Porto Alegre num jogo do Grêmio (era quem jogava naquele fim de semana, mas se eu fosse gaúcho seria Inter) e pude perceber como a rivalidade é pesada, como se fala há muito tempo em torcida única... se a onda pega, perdão pela linguagem, vai dar merda... Desse jeito o Brasil será o país da bocha, do dominó, e o futebol...
Parabéns pelo texto e pelo blog, visitarei-o mais vezes

Anônimo disse...

Bem dito, são delírios colorados... a começar que o conto fala em vitória vermelha.... heheehe

Não querendo diminuir a sua preocupação, acho que estamos muito longe da situação que seja necessário torcida única no estádio em dias de GREnal, um dos maiores do Brasil se não o maior, mas que no seu texto foi diminuído a um clássico menor.

Se olhar outros clássicos verá que a situação não é melhor: ontem teve Palmeiras e SPFC e, se vc não sabe, em dias de clássicos a poícia de SP monta um aparato de guerra. No Rio não é diferente. Fora do Brasil: em BsAs Boca e River é com torcida única o que não melhora muita coisa, na Europa temos os Hooligans garantindo a bagunça fora dos estádios já que dentro não podem fazer nada.

A iniciativa tem que vir da torcida, pois das direções não virá nada. Enquanto tivermos Píffios da vida, tocando musiquinha no estádio provocando o Imortal (aposto que vc estava lá cantando... mas se engasgaram todos no fim...:)) não teremos nenhum futuro. Lamentável, mas deve ser lembrança do 24 de junho.

Abraço e DÁ-LHE GRÊMIO!!!

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