
Esse texto é meio velho, mas muito atual. Assim como há pessoas que mesmo longe estão presentes. Como minha vó. É pra minha nona esse texto. É dela que falo. Felizmente eu pude escrever esse texto, baseando-me em fatos reais, em pessoas reais.Sorte minha!
Meu porto seguro
Aurélia Lucca da Cunha, dona de casa, nasceu no dia 5 de março de 1929.Oficialmente ela é minha avó, mas na prática é mãe, amiga, conselheira, confidente.
Dona Aurélia, como é conhecida por amigos e vizinhos, é baixa e magra. Mas sua fisionomia franzina esconde uma coragem inacreditável.Lembro-me de um episódio em que ela saiu de casa, de chinelos de tecido, e andou umas duas quadras para buscar a filha na casa do namorado.O romance não era aceito pela família devido ao caráter do jovem.Dona Aurélia, ciente disso, exigiu que sua filha saísse de lá. O namorado, obviamente, ordenava o contrário. A situação ficou tensa. O rapaz ameaçou com um revólver calibre 38 e dona Aurélia se armou com seus chinelos de tecido.A arma da mãe foi mais poderosa, e ambas saíram dali ilesas.No caminho de volta para casa, em nenhum momento, Dona Aurélia disse “Eu te avisei”, apenas abraçou sua filha.Anos mais tarde eu entendi esse gesto.
Quando comecei a namorar, decidi que não deveria esconder isso de minha avó. Afinal eu morava com ela, era ela a figura materna presente de fato em minha vida.Minha avó o havia visto uma vez e trocado algumas palavras com ele, quando eu e ele éramos amigos.Bom, quando contei a minha avó, ela ficou muito nervosa e disse:
- Não senti boa coisa nele.Acaba antes de se apaixonar.
Fiquei chateada com minha vó e pensei:
-Poxa , isso é pura implicância dela.
Semanas mais tarde, ao vê-lo num bar com outra moça, as palavras de minha avó ecoaram em minha mente.Era sábado e ele disse pra mim que ficaria em casa, por estar cansado. E lá estava ele, bem disposto, em plena Lima e Silva.Dias depois contei para minha avó o ocorrido.E embora tenha segurado as lágrimas, senti vontade de chorar.Esperei um famoso”eu te avisei”, mas ela simplesmente me abraçou forte.Ela sabia que essa era a melhor coisa que ela poderia fazer por mim.As pessoas que a escutam dizer que estudou até o “ginásio” não imaginam quanta sabedoria ela esconde.
Esconde ainda, naquele pequeno corpo, um coração enorme.Numa família de seis filhos, na qual Dona Aurélia era a de renda mais baixa, foi ela a abrigar a irmã que sofria de Mal de Alzheimer.Tia Maria beirava os 80 quando descobriu que estava tomada pela doença.Sua aposentadoria bastava apenas para os remédios.Minha avó a recebeu em sua casa, mesmo diante das dificuldades financeiras, por quatro anos. Não fosse ela, Tia Maria teria morrido dias após saber da doença.
Mas certamente o feito de Dona Aurélia que mais me marcou foi quando ela decidiu me levar para sua casa.Minha mãe estava fora de si com a separação.Meu padrasto era a única coisa que lhe importava.E eu, com nove anos, não tinha condições de me virar sozinha.E muito menos criar meu irmão de quatro anos.Minha avó passou a tomar conta de nós. E devo a ela se sou alguém hoje.
Não me lembro dela somente por ela estar ao meu lado nos momentos mais difíceis e importantes da minha vida. Ela estava comigo quando decidi a profissão que seguiria, quando me apaixonei pela primeira vez, quando parei de falar com minha mãe, quando rodei no vestibular, quando passei na UFRGS.Enfim ela estava do meu lado quando mais precisava de apoio.
Sempre que me sinto fraca, lembro dela. Recordo que podemos tirar força de onde menos esperamos.Todas as vezes que não sei o que fazer, se não posso falar com ela, lembro-me dos milhares de conselhos que ela me deu. E a lição mais importante que minha avó me transmitiu e transmite a cada dia que passa, é de que podemos não ter nada, mas se temos amor no coração somos capazes de realizar qualquer coisa.
Aurélia Lucca da Cunha, dona de casa, nasceu no dia 5 de março de 1929.Oficialmente ela é minha avó, mas na prática é mãe, amiga, conselheira, confidente.
Dona Aurélia, como é conhecida por amigos e vizinhos, é baixa e magra. Mas sua fisionomia franzina esconde uma coragem inacreditável.Lembro-me de um episódio em que ela saiu de casa, de chinelos de tecido, e andou umas duas quadras para buscar a filha na casa do namorado.O romance não era aceito pela família devido ao caráter do jovem.Dona Aurélia, ciente disso, exigiu que sua filha saísse de lá. O namorado, obviamente, ordenava o contrário. A situação ficou tensa. O rapaz ameaçou com um revólver calibre 38 e dona Aurélia se armou com seus chinelos de tecido.A arma da mãe foi mais poderosa, e ambas saíram dali ilesas.No caminho de volta para casa, em nenhum momento, Dona Aurélia disse “Eu te avisei”, apenas abraçou sua filha.Anos mais tarde eu entendi esse gesto.
Quando comecei a namorar, decidi que não deveria esconder isso de minha avó. Afinal eu morava com ela, era ela a figura materna presente de fato em minha vida.Minha avó o havia visto uma vez e trocado algumas palavras com ele, quando eu e ele éramos amigos.Bom, quando contei a minha avó, ela ficou muito nervosa e disse:
- Não senti boa coisa nele.Acaba antes de se apaixonar.
Fiquei chateada com minha vó e pensei:
-Poxa , isso é pura implicância dela.
Semanas mais tarde, ao vê-lo num bar com outra moça, as palavras de minha avó ecoaram em minha mente.Era sábado e ele disse pra mim que ficaria em casa, por estar cansado. E lá estava ele, bem disposto, em plena Lima e Silva.Dias depois contei para minha avó o ocorrido.E embora tenha segurado as lágrimas, senti vontade de chorar.Esperei um famoso”eu te avisei”, mas ela simplesmente me abraçou forte.Ela sabia que essa era a melhor coisa que ela poderia fazer por mim.As pessoas que a escutam dizer que estudou até o “ginásio” não imaginam quanta sabedoria ela esconde.
Esconde ainda, naquele pequeno corpo, um coração enorme.Numa família de seis filhos, na qual Dona Aurélia era a de renda mais baixa, foi ela a abrigar a irmã que sofria de Mal de Alzheimer.Tia Maria beirava os 80 quando descobriu que estava tomada pela doença.Sua aposentadoria bastava apenas para os remédios.Minha avó a recebeu em sua casa, mesmo diante das dificuldades financeiras, por quatro anos. Não fosse ela, Tia Maria teria morrido dias após saber da doença.
Mas certamente o feito de Dona Aurélia que mais me marcou foi quando ela decidiu me levar para sua casa.Minha mãe estava fora de si com a separação.Meu padrasto era a única coisa que lhe importava.E eu, com nove anos, não tinha condições de me virar sozinha.E muito menos criar meu irmão de quatro anos.Minha avó passou a tomar conta de nós. E devo a ela se sou alguém hoje.
Não me lembro dela somente por ela estar ao meu lado nos momentos mais difíceis e importantes da minha vida. Ela estava comigo quando decidi a profissão que seguiria, quando me apaixonei pela primeira vez, quando parei de falar com minha mãe, quando rodei no vestibular, quando passei na UFRGS.Enfim ela estava do meu lado quando mais precisava de apoio.
Sempre que me sinto fraca, lembro dela. Recordo que podemos tirar força de onde menos esperamos.Todas as vezes que não sei o que fazer, se não posso falar com ela, lembro-me dos milhares de conselhos que ela me deu. E a lição mais importante que minha avó me transmitiu e transmite a cada dia que passa, é de que podemos não ter nada, mas se temos amor no coração somos capazes de realizar qualquer coisa.
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