quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Alguém tem que trabalhar nesse país...e fui eu!

Dizem que o primeiro carnaval a gente não esquece. Mas vou lhes contar um segredo: o primeiro não carnaval a gente também não esquece.

E sim, antes dos quarenta você vai rezar para que o carnaval termine. E com menos de trinta anos na cara você pode se ver em pleno centro de Porto Alegre reclamando do transporte público durante o feriadão de carnaval. E você pode correr o risco de ter que cozinhar na terça-feira de carnaval porque o shopping tá fechado. O pessoal do shopping vai estar em casa descansado e você trabalhando.

Sim, eu não fiz carnaval porque trabalhei. Trabalhei de sexta a quarta de cinzas. E continuo, felizmente, por outros tantos dias. E durante o expediente, chegou um momento que eu disse “não agüento mais ver bundas e penas”. As penas não eram necessariamente das detentoras das bundas. Mas o fato é que o que mais se vê numa redação de jornal durante o carnaval são penas(das fantasias) e bundas.

E sei de cor e salteado quem esteve no camarote da Brahma. Também soube que Daniela Mercury levou um tombo. E isso não fez a mínima diferença pra mim. Mas deve fazer pra alguém, porque eu e outros colegas trabalhamos para que, entre outras coisas, as pessoas também tivessem estas informações.

E quando olho por esse ângulo vejo que não é tão ruim assim trabalhar durante o carnaval. O ônibus demorava pra chegar, mas vinha sempre vazio. Fazia o trajeto confortavelmente sentada na janela. E o centro de Porto Alegre estava limpo. E ninguém buzinava em dia de chuva. E as pessoas que você via não te empurravam pra pegar o ônibus. Todo mundo andava num passo com velocidade civilizada e logo, eu também. Tenho uma teoria de que quando mais de uma pessoa caminha rápidoao nosso lado, a gente automaticamente aumenta o passo. Mas isso é assunto pra outro post.

O melhor do feriadão de carnaval em Porto Alegre eu não contei. O meu prédio tava MARA! Não acordei um dia com a vizinha gritando “ fulano, vai guardar essa tua roupa” .Ou da outra se queixando “fulaninho, tu nuncaaa lavaaa essa looouça”. Ou o véio do prédio ao lado “essa camioneta é muito bôa”. Nem o pessoal de baixo tentando fazer o karaokê (sim, alguém canta pior que eu e não se envergonha disso).

E tem mais. Eu podia colocar o som a toda. Não tinha um mala pra me encher o saco. Até sexo selvagem eu podia fazer. Segundo a vÉia de baixo eu faço isso direto, sabiam? Pois é, nem eu. E quando alguma viva alma fazia barulho, era um som legal. A vizinha debaixo tava de dona da casa e colocou um sonzinho bem agradável. Mas logo a moça foi ao encontro de sua simpática mãe e eu fiquei de dona do campinho. E eu desci pra levar o lixo de baby doll sem se preocupar se algum vizinho ia mer ver no corredor.Não havia nenhum. Quando foi segunda de carnaval até o radar do prédio (o vizinho da frente que tá sempre na janela) viajou. Ah, meu prédio podia ser sempre assim...

Mas o carnaval acabou. Teve uma sexta que passei pela João Alfredo e tava tudo vazio. Hoje tudo lotado. E já acordei com os passos dos vizinhos de cima e o barulho da garagem do prédio ao lado.

É, o carnaval acabou. Eu aguardei ansiosamente esse momento. Eu trabalhei enquanto o Brasil todo fazia festa. E pensando bem, eu sobrevivi.

2 comentários:

Anna Magagnin disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Su disse...

teu relato me comoveu e tal, mas o que mais gostei no post foi o cãozinho fantasiado.. hehe lindo, lindo!

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