Quando começou o primeiro turno das eleições o Jornal Nacional sinalizava com uma cobertura eleitoral isenta (finalmente!).Isso porque em cada edição o JN mostrava o dia de todos os candidatos.Isso mesmo, todos!Descobriu-se mais tarde que a Globo havia feito acordo com os nanicos para que, em troca de mostrá-los no ar, eles não seriam convidados para o debate.Somente os quatro primeiros colocados seriam, e estes já haviam sido escolhidos pela Globo. Pronto, a cobertura eleitoral pela mídia já estava manchada!
Mais tarde descobriu-se que a Globo não possuía quatro, mas um preferido.Ou se preferir, um alvo. E a dois dias da eleição que decidiria o primeiro turno, momento em que as pesquisas indicavam possibilidade de vitória de Lula, a Globo e outros órgãos da imprensa mostram suas garras.
No dia 29, no Jornal Nacional, da Globo,
no entanto, não há espaço para mais nada: a tragédia do avião da Gol não entra;
o noticiário eleitoral, com destaque para as fotos do dinheiro dos petistas, é
praticamente o único assunto. É uma omissão incrível. O Boeing partiu de Manaus
às 15h35, hora de Brasília. Deveria ter chegado em Brasília às 18h12. Quando o
JN começou, a notícia do desastre já corria mundo.(...) A ponta que envolvia "a
podridão dessa banda sindical petista" , como dizia um desses funcionários
revoltados, referindo-se aos chefes da operação do dossiê no comitê eleitoral do
presidente Lula, era amplamente noticiada. Já a outra, que envolvia articulações
de Abel Pereira, empresário de Piracicaba, com interesses no Ministério da Saúde
na época dos governos tucanos, era praticamente omitida. (Carta Capital,
18/10/06).
Em 2005 quando fervia a crise do mensalão a mídia adotara um papel duvidoso e incoerente com o seu. Denúncias e boatos ganhavam a mesma repercussão (ou mais) que fatos. E, ou os professores da minha faculdade estão todos equivocados, ou o erro conceitual (e prático) é da grande mídia.Porque aprendi na faculdade que jornalistas noticiam fatos. "Precisamos do fato para fazer notícias", escutei muito em aula.Mas não é que a Globo, Veja e outros só precisam de boatos e denúncias?
A mesma postura a imprensa adotara no período eleitoral.Com um erro mais grave (sim pode ser pior do que já era).Agora estamos no meio de uma eleição.E a mídia deveria aparecer como uma bússola para aqueles eleitores que mal sabem que teremos eleições. Pois a mídia atuaria com cabo eleitoral.O papel mais sujo, vergonhoso e deprimente ela adota.Num tom mais ameno do que a edição do debate entre Collor e Lula em 89, mas ainda presente.Essa postura incomoda não a mim ou ao Lula, mas a democracia.E justo a imprensa que clama por liberdade de expressão, parecia querer pôr em risco a sua.
Mas a Globo não foi a única a adotar essa postura, façamos justiça aqui já que a imprensa não o fez.A revista Veja também resolveu participar mais ativamente da campanha do que lhe caberia.No dia 27 de setembro de 2006 (quatro dias antes do pleito) Veja publica uma capa apenas com um caricatura de Lula usando como venda nos olhos a faixa presidencial.Bom, mas eu consegui ver um lado bom disso tudo.Sim poderia existir um lado bom.Quer dizer que finalmente a imprensa ignorou aquele discurso utópico e demagogo da imparcialidade e resolveu mostrar que uma revista pode ter opinião sem deixar de fazer jornalismo? Carta Capital abriu o voto em Lula, sem deixar de publicar notícias relevantes, como essa cujo trecho anexei acima.Mas engano meu, ao ler o editorial de Veja da referida capa, vejo um texto cheio de acusação a Lula e ao PT e a revista os postando como fatos.Um editorial que soava mais como uma introdução a uma reportagem do que como uma opinião.Triste, Veja perdera sua grande chance de mostra o que todos já sabem, que ela não é imparcial. E ter lado não é errado.Errado é usar do papel de mediador numa eleição e na verdade atuar como cabo eleitoral de um ou outro candidato.No editorial de Veja ainda encontro uma frase que me chama a atenção.
Desde então, o quadro só fez piorar, com a descoberta de
que da quadrilha faziam parte peixes graúdos do petismo.Entre eles, o presidente
nacional do partido, Ricardo Berzoini, que foi obrigado a se afastar do cargo de
coordenador da campanha eleitoral de Lula.(Veja, 27/10/06)
Bom, agora alguém me diga por qual crime Berzoini foi condenado?Exatamente, nenhum.A justiça o investiga, mas o fato é que passados mais de um mês da publicação desta Veja nada foi provado contra Berzoini.
Mas em outra edição Veja continuaria com seu jogo político.Na capa da edição de quatro de outubro de 2006, no canto da folha, Veja publica:
Dinheiro sujo do PT - apareceram as fotos.
Detalhe: a Polícia Federal que cuida do caso não afirmava na época que o dinheiro era do PT.Não se sabia a origem.Ou só Veja sabia e estaria contando aos eleitores, ou está fazendo aquele jornalismo que não me ensinaram na faculdade, de tornar boatos notícias.
Percebe-se que em um ano a mídia nada aprendeu.Continua fazendo um jornalismo baseado em alguma coisa, exceto o mais importante: ética.E aqui entendo ética como simplesmente respeito ao telespectador ou ao leitor.Notícias brotam de boatos, denúncias e não mais de fatos.Com o agrave de quem em um ano eleitoral todo cuidado deveria ser maior.A imprensa parece querer interferir no processo soberano de uma nação.Resta saber agora, já que Globo e Veja não conseguiram eleger seu candidato, como se portarão no segundo mandato de Lula.Espero sinceramente daqui a um ano estar escrevendo como a imprensa evolui no país e finalmente descobriu que em jornalismo investigativo o repórter atua como detetive e não como promotor.Mas a bem dos fatos, não creio que isso vai acontecer.Me guio por Murphy agora, as coisas tendem a piorar.E daqui a dois anos novas eleições.Até lá, olhos atentos.
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