Poucas coisas irritam tanto quanto acordar de um sonho bom. Pode ser o despertador, pode ser alguém que chama ou simplesmente o tempo de sono que cessa. O sonho acaba assim pelo meio. A gente fecha os olhos,na esperança de voltar a dormir e continuar no sonho, mas isso nunca acontece. Um sonho só é sonhado uma vez e nunca se repete. Pelo menos não os sonhos que a gente gostaria de repetir. Ou de nunca acordar.
Eu sonhava com uma noite feliz. Todas, eu disse todas, as pessoas que eu amava estavam lá. Era um lugar bonito, eu estava linda. Não lembro do vestido, nem da cor da luz, mas eu sabia que eu estava linda, porque quando estou feliz eu fico linda. Parecia um castelo, porque eu me sentia plenamente segura lá dentro. A família ria e falava alto, como de praxe, e um abraço me tranquilizava em meio a um caos que me deliciava. Umas piadas repetidas de antigos amigos e umas pérolas de colegas especialistas em pérolas. Era mesmo uma noite feliz, rodeada de pessoas maravilhosas. No decorrer da noite feliz no castelo, algumas coisas incompreensíveis para as pessoas que me rodeiam se esclareciam. E outras coisas que eu dizia na forma de brincadeira, quanto a essas todos compreendiam os significados. Todos entendiam o que eu precisava pra ser feliz. Tudo que eu precisava nessa incessante busca pela felicidade eu havia encontrado naquela noite. E todos entendiam. “E não é que ela vai fazer tudo que disse”, diziam alguns amigos mais céticos.
Aí, eu acordei. Na verdade um barulho de fora me desviava do sonho. Não sei se uma ambulância que passou na rua, um imbecil que resolve ligar no sábado de manhã te oferecendo assinatura de revista. Eu não sei o que foi, mas eu comecei a acordar. Eu ainda sonhava. Mas já não estavam todos. A pessoa mais importante da minha vida perdeu a carona e não foi. Uma pessoa muito especial eu falava por uma tela de computador, cuja conexão falhava. Alguém sorria e dizia “ eu avisei que eles não viriam”. A felicidade começava a dar lugar a raiva e a tristeza. Mas aí veio a decepção. Os amigos cochichavam e como pisando em chinelos perguntavam “aquele pessoal não veio, né”. Eu dizia na maior ingenuidade, amesma ingenuidade da felicidade que eu havia vivido instantes antes no mesmo sonho, na mesma pseudo noite feliz “não, meu coração tá partido, eu confesso”. Eu tava feliz ainda. Sorria e abraçava muitas pessoas, mas já encontrava defeitos no visual. Eu feliz era linda, lembram?
Pois é, a noite feliz se acabava, porque definitivamente eu estava desperta do sonho. Eu acordei e só pensava em qual barulho havia me acordado, afinal o sonho era tão bom. Respirei fundo, olhei a parede do quarto, o vazio da cama, as almofadas no chão e a luz do sol que entrava timidamente pela janela. “Tá na hora”, pensei. Levantei da cama e encarei o espelho do banheiro. Sem olheiras e com a pele boa, mas um olhar firme e voz amarga, eu disse “foi só um sonho”...
Nenhum comentário:
Postar um comentário