Em função do centenário, abordei aqui sobre a origem do Sport Club Internacional. Me parece pertinente falar sobre a origem do Inter na minha vida. O dia em que esta blogueira descobriu a paixão pelo Clube do Povo. As lembranças são vagas, os dados são imprecisos. Falarei sobre o que me recordo com exatidão.
Uma sala de uma típica família brasileira. Pormenores para dizer que a televisão ficava no centro e tudo, e todos, girava em torno do aparelhinho. Na frente, poltronas e a cadeira do papai, que na minha família era mesmo da vovó. Sim, minha vó se adonou daquela cadeira de um modo que ninguém poderia pensar em sentar nela na sua ausência. Tanto sentou lá, que hoje não pode mais por problemas na coluna. Mas ainda olhamos para aquela cadeira com medo de sentar ali. Eu brincava com alguma criança. Ah, acho importante dizer que eu tinha uns 4 ou 5 anos. E eu corria pelo apartamento da minha vó, local onde mais tempo ficava, em função do trabalho dos meus pais. E eu corria e gritava e berrava, como toda a criança quando está na casa dos avós. E minha vó era uma mulher ativa. Digo era, porque, hoje, a saúde lhe impede de realizar todas as inúmeras atividades que realizava naqueles anos. E meu vô fazia alguma coisa que não lembro,acho que lia. Isso ele muito faz até hoje. Minha tia não estava, creio. E meu tio, que morava lá, também não.
A televisão ligada e uma voz anuncia o início de um jogo de futebol. Parecia importante. Não pelo tom do narrador, porque no meio da brincadeira divertidíssima na qual eu me envolvia nem percebi o que o cara falava na televisão, mas pela reação da minha vó. Algumas voltas ao redor da tevê depois e ela anuncia "finalmente vou me sentar pra ver o jogo". Acho que o jogo não era bom, ou ela tinha muito a fazer, pois lembro dela várias vezes se levantando da cadeira do papai após o coemço da partida.
O tempo passa, acho que segundo tempo. Creio que gols ocorrem. E gols que deveriam ocorrer não ocorrem. Minha vó parece tensa e se acomoda com os olhos vidrados da tevê. "Vamo meu Inter". Então é o Inter que joga, pensei. E ela continua esbravejando a cada gol perdido. Como uma lamúria, como se perdesse algo precioso na sua vida, assim ela lamentava cada bola que não entrava. E de repente, começo a olhar para a tevê. E brinco um pouco mais, mas minhas atenções se vão dos lamentos de minha vó para a telinha. Uma camisa vermelha em campo. Minha vó falava em alguns nomes que não lembro. Mas era o Inter. Sim eu já sabia que o Inter usava camisa vermelha. O adversário vestia verde. Não parecia ser um time muito importante.
E aí, me sento na frente da televisão, no chão mesmo. Levanto muito a cabeça para enxergar a imagem na tela. Mas eu queria ver aquilo. O jogo parecia importante, uma derrota e o Inter daria adeus ao campeonato. Não sei se era mata-a-mata ou pontos corridos. O que sei é que o Inter precisava vencer e o gol não saía. Lembro de um homem, rosto vermelho a se esbravejar na beira do campo (Abel Braga,quem sabe). E o lamento de minha vó segue. E eu começo a falar sem perceber "vai vai". Eu também queria o gol do time da camisa vermelha naquele momento.
Por um instante, minha vó não se lamenta e nem sofre, ela olhe pra mim e sorri. Logo após um "vai vai" que eu disse. Na hora não entendi aquilo.
Mas o jogo segue e o gol não vem. O outro time começa a festejar. Eu odiei aquela camisa verde por instantes. E o jogo acaba. O homem de rosto vermelho põe as mãos sobre a cabeça, numa espécie de tribuna que fica a beira do campo. "Acabou será isso", penso. Olho pra minha vó, e ela balança a cabeça com os lábios cerrados. Era o fim. Que merda, eu penso. Na mente me vieram frases como "esse time vai se classificar na próxima" ou "deixa, o Inter vai ganhar vários campeonatos". Olho para o cara que se lamentava, o técnico, e penso "tu vai ganhar muito ainda, tu vai".
E então, a "magia" acontece. Uma lágrima escorre de meu rosto. E de repente, minhas duas mãos, que eram tão pequenas naquela época, começam a secar as lágrimas. Minha vó silencia. E eu não vejo mais nada ao meu redor. Daquele dia em diante, eu não conseguiria tirar meus olhos do Inter...
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