quarta-feira, outubro 10, 2007

Lixos de verdades

A vida no lixo vista por quem se julga livre dele

Em pleno ano de campanha eleitoral um militante distribuía panfletos na esquina de uma avenida em Porto Alegre. Ele vestia calça jeans e camiseta. Roupa típica para um universitário de classe média. Próximo a ele para uma carrilheira, ou seja uma mulher que recolhe lixo seco com carrinhos. A mulher também portava uma calça jeans, mas rasgada e uma camisa suja. Dentro do carrinho, uma criança de três anos sorri para o jovem. Ele busca entender como a criança parece tão contente dentro de um carrinho cheio de papelão, latas e plásticos que sua mãe recolheu das lixeiras da cidade.


Ao lado dele passa uma mulher, com uma calça jeans rasgada. Mas foi rasgada na fábrica mesmo, era moda. Também tinha uns enfeites brilhantes na calça. Ela andava de salto alto, tranquilamente às 16 horas. Carregava sacolas de compras e conversava com sua mãe. Ambas com cabelos impecáveis. Ela olha para o jovem, e com um olhar de fúria, diz:

- Porque teu partido não arruma emprego pra essa gente? - apontando para a criança no carrinho

O jovem balbuciava uma resposta, quando a carrilheira se aproxima, ainda a tempo de ouvir a moça da calça bonita.A carrilheira baixa os olhos, olha para seu filho, levanta a cabeça e diz olhando nos olhos do jovem:

-Eu tô trabalhando moço, é com isso que sustento meus filhos!

O jovem sorri apenas. Nunca ele daria uma resposta tão boa à moça da calça bonita. Que não escutou a fala da carrilheira. Mas talvez nem entenderia. Ele mesmo, em toda sua faculdade, nunca havia compreendido tão bem o significado da palavra "dignidade".


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