quarta-feira, abril 25, 2007

Delírios Colorados - O saci observa


Te observo, co-irmão. Algo longe, pois meu escudo e espada não foram suficientes para vencer mais uma guerra. Estava cansado, mas achei que não precisava comer nem beber água. Estava imbuído do espírito que me levou às grandes glórias que trago no peito. Fracassei, agora apenas descanso. Fecho as feridas para uma nova batalha, enquanto te vejo seguir adiante nos campos que conquistei.Teu povo faz troça e diz que não sou o mesmo. Não me importo. Sei do respeito que tens e sei que hoje só enchem a relva por estarem seguros da minha ausência. Sempre que nos cruzamos, co-irmão, nas grandes batalhas, eu venci. A minha saída te dá a esperança de um futuro melhor. Sei que funciona desse jeito, como sempre funcionou. Hoje, sento no cume do monte onde ergui meu palácio, de onde posso ver toda a terra coberta com as minhas bandeiras vermelhas. Daqui, vejo que tens algumas virtudes. Sabes aproveitar a vantagem sobre os fracos inimigos. Tens um comandante que conheço, pois foi criado na minha casa, o que lhe dá a virtude de vencer sabendo por quê, mesmo com os temores da juventude.Não sei se tens, porém, as virtudes para desalojar-me do meu palácio. Seria doído entregá-lo para o eterno rival, dizem meus pupilos, que fazem votos pelo teu fracasso. Eu havia deixado de me importar contigo já faz alguns anos, quando te via chafurdar nos charcos de lama junto com adversários de segunda. Depois, quando saíste do poço, até olhei de soslaio, mas estava mais preocupado afiando a espada, pois a conquista do mundo era um caminho a trilhar. Como admites, co-irmão e rival, foi um caminho e tanto. Cruzamos o mundo a falcione, vencemos os pequenos e gigantes. Alguns dos teus discípulos, tomados de inveja, desdenharam. Disseram ser inglórias as batalhas, mentirosas as conquistas. Chegaram a queimar o meu jardim numa tentativa súbita de chamar atenção. O bem maior me esperava, então pouco liguei para coisas pequenas como o ciúme.
Hoje, jogando nos mesmos campos, tu segues adiante, eu fico. Tivemos o mesmo caminho, mas lutei contra escudos de metal e tu, contra broquéis de madeira. Faz parte. Quem um dia dobrou o aço não se contenta em partir o ferro. Fui soberbo, foste humilde. Cabe a mim perceber onde errei e seguir adiante para mais uma conquista.Não vou pedir de ti, rival, a modéstia que nunca tiveste. Teus pupilos não falam, mas sabem a verdade. As taças que tens para conquistar estão no meu palácio e um longo caminho ainda tens para percorrer antes de tocá-las. Se o fizerdes, serás digno do meu cumprimento. Se fracassares, ao menos veja minhas pegadas e reaprenda como se constrói o caminho. Seguirei te observando, do topo do mundo, de onde podes ver a fumaça do meu cachimbo.Daquele que sempre te venceu e hoje tem o mundo aos seus pés,SCI.


Autor: Antenor Lemos.

Um comentário:

luís felipe disse...

gostei desse texto, pois ela é forte, direto sem deixar de reconhecer a lamentável campanha do Inter. O rival ainda tem muito caminho para percorrer antes de chegar no palácio construído no topo do mundo...

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